O governo federal sofreu uma derrota expressiva nesta quarta-feira (25) com a aprovação, pelo Congresso, do projeto que revoga o recente aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Na Câmara, o placar foi eloqüente: 383 votos a favor da derrubada e apenas 98 contrários. No Senado, a votação ocorreu de forma simbólica, sem registro nominal.
A ofensiva pegou o Planalto desprevenido. Aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contavam com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para adiar a análise do texto por pelo menos mais uma semana. O líder do PT na Casa, Lindbergh Farias (PT-RJ), soube da inclusão da matéria na pauta pelas redes sociais.
A escolha de Coronel Chrisóstomo (PL-RO) — um dos deputados mais alinhados ao bolsonarismo — como relator foi interpretada por governistas como provocação. Com muitos parlamentares fora de Brasília por causa do sistema semipresencial e das festas juninas, a base reconheceu que havia pouco a fazer para evitar o revés.
O governo calcula que a revogação exigirá um novo contingenciamento de R$ 12 bilhões no Orçamento, afetando saúde e educação. Desse total, cerca de R$ 3 bilhões dizem respeito a emendas parlamentares.
Fontes de insatisfação
A tensão entre Executivo e Legislativo tem várias origens. Deputados reclamam da narrativa do governo, que tenta atribuir ao Congresso o papel de vilão pela possível alta na conta de luz após a derrubada de vetos sobre o marco das eólicas offshore — votação que contou com o apoio de sete senadores e 63 deputados petistas.
Também irritou parte dos congressistas o discurso do presidente Lula de que a gratuidade da energia para 60 milhões de famílias de baixa renda seria um feito exclusivo do Planalto.
Outro foco de atrito é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Antes visto como elo de diálogo, ele passou a desagradar parlamentares com críticas ao ritmo de votações e ao projeto que amplia o número de deputados — e, consequentemente, de gastos.
Na Câmara, Hugo Motta enfrenta pressão para adotar postura mais incisiva em defesa dos deputados, mantendo distância do Planalto. Governistas avaliam que o Centrão quer antecipar o embate eleitoral de 2026 e ver o governo perder força.
Emendas e STF
Parlamentares também se queixam da lentidão no pagamento de emendas, sobretudo na área da saúde. Alegam estar recebendo recursos atrasados de 2023 e 2024. Decisões recentes do STF exigindo maior transparência nas emendas inflamam ainda mais o descontentamento.
Apesar de o governo ter acelerado os repasses na última semana, o esforço foi considerado insuficiente. Entre janeiro e 15 de junho, foram pagos R$ 6,3 bilhões. No dia seguinte à aprovação da urgência para revogar o IOF, o montante subiu para R$ 6,5 bilhões; no dia 18, alcançou R$ 6,6 bilhões; e, até domingo (22), R$ 6,9 bilhões.
Mesmo diante dessa sequência de derrotas, Lula manteve o discurso do “nós contra eles” em evento nesta quarta-feira, acirrando ainda mais os ânimos com o Legislativo.